segunda-feira, 6 de julho de 2015

Churrasco de sopa

Uma das primeiras perguntas que fiz ao médico há cinco anos, quando comecei a pesquisar sobre a cirurgia bariátrica, foi a respeito da minha vida social.

Veja bem: sou paulista, paulistana, são-paulina. Nascida na falida Maternidade São Paulo e criada na principal capital gastronômica do País. Desde que me entendo por adulta o conceito "sair com os amigos" significa "ir a algum lugar diferente para comer coisas gostosas". Então, fazer essa cirurgia talvez fosse implicar na minha vida social e essa era uma real preocupação.

Na época lembro que o médico me disse: "só vai mudar o que você quiser que mude em relação a isso, mas a SUA alimentação será diferente". Ou seja, ele estava jogando nas minhas mãos a ideia de que a cirurgia iria mudar meu estômago, não a minha cabeça. E que cabia a mim saber disso e ter a conscientização necessária para encarar os fatos. 

E lá se foram cinco anos pensando, repensando, estudando as possibilidades e decidindo se faria ou não a cirurgia. Pois bem, fiz, estou com 18 dias de operada e o inevitável aconteceu: fui convidada para ir a uma festa de aniversário. E não era uma festa qualquer, era a festa da madrinha do meu marido, uma tia MUITO querida por todos nós. Não tinha como dizer não. E eu nem queria dizer não, mas no convite já veio o cardápio: "vem aqui em casa, vamos fazer um churrasco pra comemorar".

Churrasco. Isso mesmo, churrasco. A comida preferida de dez em cada dez paulistas-paulistanos carnívoros como eu. Confirmei minha ida e já avisei meu primo: "não me conte como pessoa na hora de comprar a carne, porque eu não vou comer". Meu marido todo preocupado disse que se eu quisesse a gente ia até lá, dava um beijo na tia e ia embora. E eu bati o pé, firme:
- Não. Eu quero ir e ficar.

E lá fomos nós. Levei minha sacola com a marmita: um pote de iogurte natural desnatado, adoçante Stévia, uma garrafa de Ades uva diet e um potinho cheio de sopa de legumes caseira liquidificada rala. Pela quantidade que levei seria suficiente para eu ficar lá por uns dois dias, mas sei lá, fiquei com medo de não me conter e achei melhor sobrar do que faltar. 

Quando chegamos logo fomos recepcionados por um pratão de linguiça e picanha recém-saídas da churrasqueira. Eu olhei pro prato, o desejei e disse: "não, obrigada". Fui até a cozinha, peguei meu squeeze dos Minions e enchi de Ades. Com o fiel copinho de 50 ml ao lado, fui abastecendo-o e me mantendo assim. Todo mundo comendo. E todo mundo me perguntando como era não comer. E eu lá, firme e forte.

Chegou a hora de todos sentarmos à mesa e eu confesso que fiquei um pouco de fora. Fui lá pra varanda, onde meu primo e meu marido faziam a carne e fiquei batendo papo para não ver a comida toda. No entanto, uma hora foi inevitável: eu precisava almoçar. Então esquentei a minha sopa e comecei a comer na mesa, com todo mundo. E posso falar? Nem liguei pro churrasco. Juro. Tava tão gostosa, o papo tava tão bom, a companhia estava tão engraçada que consegui fazer com que a comida fosse mera coadjuvante nessa cena. 

E foi aí que a ficha caiu. Era disso que meu médico estava falando há cinco anos: cabia a mim fazer a minha vida social acontecer e não à comida! Como pude ser tão cega durante anos fazendo com que tudo girasse em torno do que estava na mesa e não sobre quem estava em volta dela? E olha: a mesa estava farta. Mas meu prato e meu coração também.

Salpicão de frango, pães, maionese caseira e muita carne. Ao lado, meu prato com a sopa quentinha 
e o copinho fiel aliado pra não me deixar perder a medida

Durante todo o tempo o Lê vinha me perguntar se eu estava bem. E posso dizer que fui sincera em todas as vezes em que disse que sim. Eu estava feliz por muitos motivos. O primeiro era porque eu percebi que sou mesmo forte, persistente e resistente. O segundo porque entendi que a comida não pode dominar a minha vida. E o terceiro era porque eu estava com pessoas que eu amo muito, que fazem parte da minha vida por perto e que era o mais importante no momento.

Quando chegou a hora do "parabéns" fiquei meio tensa porque um dos bolos tinha coco - e embora eu não ligue para doces, adoro bolo com coco. Então peguei meu Ades e me diverti com ele. E ignorei o bolo, sem ignorar o tradicional "parabéns pra você" e prestigiar os 60 anos da tia. 

Eram dois bolos, só pra deixar a vida da gordinha aqui mais fácil...


No final, passamos uma tarde pra lá de especial e agradável e foi muito bom. Estou me sentindo bem e poderosa por ter mais um obstáculo enfrentado com sucesso e firme no propósito de que eu vou conseguir. E com isso fica a lembrança de que é possível sim fazer um "churrasco de sopa e Ades" e sair alegre dele. O que importa é o que está dentro de você. 

Para finalizar, uma foto que resume bem todo o amor envolvido nesse dia de superação, família, amizade e amor que vivenciei:

Marido, filho, eu, tia, primo e prima

É possível obter sucesso sozinha. Mas acompanhada é muito mais fácil. 

E viva o churrasco de sopa!

Beijos magros,




2 comentários:

  1. Os primeiros dias, meses são difíceis. Por tudo que eu li você escrever só tenho a dizer que você foi sincera no que acontece - não dourou a pílula.
    Até o 3º mês é muita adaptação e parece que nunca vemos o resultado! São meses intermináveis.
    Mas daí pra frente é só alegria! Até o momento em que vc se esquece que fez qualquer cirurgia - eu faço 2 anos dia 9/7, então sei bem a sensação.
    Daqui uns dias você passa a amar as fases - não as de mal humor que a fase liquida nos deixa - mas as fases em que o corpo vai mudando, o rosto tomando outra forma.
    A maioria das pessoas que não me conheciam não me imaginam gordinha. E os que me conhecem se espantam o tanto que eu mudei e fiquei bem.
    Eu sei que dois anos para quem tem 1 mês é muita coisa... Mas o que eu tenho a te dizer é que dentro desses meses você vai se redescobrir. Vai descobrir um universo, que eu por exemplo, nunca tinha conhecido: o prazer do espelho.
    Portanto, boa sorte e aproveite cada fase... Depois de um tempo você verá que foram essas fases que te tornaram bem mais forte. Hoje as vezes me questionam alguma coisa, eu falo: sobrevivi um mês tomando água no copinho... Aguento qualquer coisa!

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    1. Aliny, obrigada pelas palavras. Nesta fase tão difícil ter o incentivo das pessoas ajuda muito. Concordo com vc: se a gente sobrevive há um mês com esse copinho do mal, aguentamos qq coisa! kkkk Beijo

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